Pais enchem a agenda dos filhos de aulas de inglês, balé e natação.
Não adianta ter muitas atividades sem tempo para aprender sobre elas.
Começo de ano é sempre aquela animação. As pessoas ficam procurando coisas para fazer. Sentem que não aproveitaram bem o ano que passou e tentam recuperar o tempo perdido. Ou, então, resolvem dar um rumo diferente para suas vidas, entupindo suas agendas com as mais diferentes atividades. Têm aqueles que fazem listas de prioridades. São tantas, que se torna impossível realizar todas.
As crianças também entram nessa: papai e mamãe resolvem que é hora de se mexer e, além dos compromissos escolares (cada vez mais volumosos), acabam por fazer esportes, outra língua, curso disso e daquilo. Não sobra tempo para mais nada. Nem para brincar.
Com isso, as famílias têm que montar esquemas mirabolantes. Afinal, os compromissos dos pequenos envolvem transporte, ou seja, alguém que os leve. As vezes, uma atividade é tão na sequência de outra, que não dá nem tempo de parar para tomar um lanche. Esse acaba sendo feito no carro.
Muitos pais se preocupam em preparar os filhos o máximo que puderem. Sabem que o mercado de trabalho é competitivo, sendo necessário dominar mais que uma língua estrangeira (alguns já estão aprendendo o mandarim).
Cuidar da saúde é fundamental. O sedentarismo tem que ser combatido. Dá-lhe esporte na criançada. Sem contar que muitos insistem que o filho faça alguma atividade física, já de olho em algumas possíveis gordurinhas, pouco aceitas para os padrões de beleza atuais.
Sem dúvida, muitas preocupações são pertinentes. Mas, naquela de preparar e prevenir coisas, os pequenos são atulhados de atividades, perdendo-se de vista de que são apenas crianças. Falta-lhes tempo para fazer as coisas que uma criança deveria fazer. Brincar, por exemplo, algo que deve ser diário.
Principalmente para os menores. Brincar é uma forma da criança organizar as coisas que vivencia, dando um sentido a elas. Não é algo inócuo. É no brincar que a imaginação da criança é estimulada, algo importante para o desenvolvimento da criatividade e, consequentemente, da inteligência.
Assim, como, é importante uma sonequinha extra durante o dia. Momento que serve para descansar e ter mais energia para outros aprendizados. Como o adulto. Nada como um descanso para dar continuidade a um relatório que não saia do lugar.
Não adianta nada as crianças terem muitas atividades, se não lhes sobra tempo para digeri-las. E incorporar o aprendizado delas ao seu repertório.
Muitos pais têm se questionado sobre esse assunto. Nem sempre sabem como dosar tantos compromissos dos filhos.
Penso que a primeira pergunta que devem fazer é: o que os pequenos gostariam realmente de fazer? Isso pode ser mais fácil de identificar no esporte. Muitos pais exigem natação. Nem sempre é o que lhes agrada. Ouvi-los, pode tornar uma obrigação mais gostosa. Uma modalidade pode ser o suficiente para uma criança. Não podemos esquecer o quanto pulam o dia inteiro.
Quanto ao ensino de um outro idioma, ainda o inglês parece o mais adequado nos dias de hoje. Escolher uma escola com um bom projeto na área (hoje em dia, algumas já começam na pré-escola), pode facilitar e deixar seu aprendizado extra para mais tarde. E assim, sobrar tempo para uma outra atividade que a criança queira fazer.
Outra pergunta importante é como as atividades vão mexer no dia a dia da família, que terão que levar e buscar. Muita complicação, com o passar do tempo, pode tornar essas atividades um fardo para os pais, desestimulando a criança.
Mas o principal mesmo é saber o quanto de tempo tem sobrado para o filho exercer o que realmente é adequado para sua idade, ser criança.
Essa atividade tem que ter um lugar especial em sua agenda. Sem isso, as outras coisas perderão muito de seu valor.
(Ana Cássia Maturano é psicóloga e psicopedagoga)