Pisos dos carros brasileiros já e 100% pet

Em se tratando de tecnologia sustentável, mais uma opção: agora com a indústria automobilística.

Fonte: Valor Econômico, extraido do site: http://www.sebrae-sc.com.br

Autor: Bettina Barros e Marli Olmos, de São Paulo

Piso dos carros brasileiros já é 100% PET

Antes associadas exclusivamente à produção de camisetas e bolsas ecologicamente corretas, as garrafas PET recicladas no país avançam sobre outra área: a indústria automobilística. O produto está em praticamente 100% dos carros produzidos hoje no Brasil e já é exportado para a Argentina. Por enquanto, o poliéster de PET reciclada é utilizado em todo o carpete que reveste o assoalho do veículo, incluindo porta-malas. As montadoras não revelam detalhes, mas, em nova etapa de desenvolvimento que está muito próxima de ser implantada, a PET reciclada vai revestir portas, teto e outras partes.

O apelo ambiental é um ponto forte. Mas no caso da indústria automotiva, um setor que trabalha em sistema “just-in-time”, pesa mais disponibilidade e preço de qualquer matéria-prima. Se não usasse a garrafa reciclada, o fabricante de carpete do carro teria que importar a fibra virgem.

“No Brasil simplesmente não existe a opção de não usar a PET”, diz a engenheira Rosi Scorcioni, da Ober, fornecedora da indústria automobilística dos chamados não-tecidos feitos a partir da fibra reciclada. “Primeiro, porque o polímero virgem precisa ser importado; segundo, porque existe muita matéria-prima [garrafas] aqui; e, terceiro, porque a fibra reciclada não perde nenhuma característica em relação ao polímero virgem”, enumera.

As montadores parecem satisfeitas com o resultado. A Renault usa o poliéster reciclado desde que inaugurou a fábrica brasileira, em São José dos Pinhais, no Paraná, em 1998. Vicente Moura, chefe de engenharia da empresa, diz que o produto foi submetido a inúmeros testes de resistência – de elevadas temperaturas ao atrito do salto alto em formato de bico dos sapatos femininos. Passou em todos, incluindo o que o deixou sob uma temperatura de 90° C durante 22 horas.

Rosi, da Ober, lembra a surpresa das montadoras francesas quando chegaram ao Brasil. “Eles vieram para cá querendo o mesmo brilho do tapete produzido pelas demais fábricas; teríamos que reproduzir exatamente o padrão europeu”, conta. “Expliquei que o brilho seria diferente por conta da nossa matéria-prima. Foi aí que souberam que fazemos carpetes de garrafas recicladas”.

Luís Bittencourt, gerente comercial da M&G Fibras Brasil, do grupo Mossi & Ghisolfi, explica que a “solidez da cor e a resistência fizeram com que a indústria automotiva olhasse com outros olhos para o poliéster reciclado”. A M&G é uma das três empresas que coloca atualmente no mercado a fibra reciclada, ao lado da Ecofabril e da Unnafibras Têxtil.

Essas empresas compram as garrafas das cooperativas e vendem a fibra para empresas como a Ober, que, por sua vez, vende as placas de carpete para outro fornecedor, que as montam no formato do carro. Esse último é quem fornece às montadoras.

Segundo os especialistas, as garrafas podem sem usadas independentemente de serem coloridas ou transparentes. A grosso modo, um carro pequeno, como o Sandero, da Renault, necessita de 2,7 quilos de fibra reciclada. Isso equivale dizer que 60 garrafas de dois litros são utilizadas no piso do veículo, já que um quilo de fibra equivale a 22 garrafas.

Com uma produção total de 3 milhões de automóveis e veículos comerciais leves em 2008, é possível estimar que a indústria automobilística no país absorveu cerca de 200 milhões de PET no mesmo período – quase 5% do total de PETs reciclado anualmente no Brasil. É uma destinação importante para uma matéria-prima ainda malvista por alguns. “Existe preconceito com garrafas plásticas por parte dos consumidores brasileiros”, admite Hermes Contesini, responsável pelas relações com o mercado da Associação Brasileira da Indústria de Pet (Abipet).

Até agora o uso do produto estava limitado ao revestimento do assoalho e do porta-malas por serem áreas onde se pode utilizar um produto mais rústico. Já a confecção dos revestimentos de bancos e portas precisa levar em conta toque e composição de cores, lembra o gerente executivo de planejamento e desenvolvimento de produto da Volkswagen, Antonio Carnielli Filho.

Mas a indústria do PET está prestes a romper essa barreira. “Estamos concluindo um trabalho de desenvolvimento que está muito próximo de uma implementação”, diz o supervisor de engenharia da Ford, Celso Duarte, sem revelar nenhum detalhe sobre qual parte do carro vai receber a fibra da garrafa reciclada.

Rosi, da Ober, cita outras partes que devem logo entrar para a lista de itens de PET reciclada dos veículos brasileiros: o revestimento antiruído do motor (o feltro passaria a ser de PET), capas de bateria e também a fita que amarra o chicote elétrico.

As garrafas recicladas vão equipar também carros fabricados na Argentina. Empresas como a Ford – que começou a usar o produto paulatinamente e hoje já o utiliza em toda a linha – usa essa fibra nas fábricas do país vizinho. No caso, a linha de montagem argentina é abastecida diretamente por fornecedor brasileiro. De acordo com Duarte, a Ford também já começou a trabalhar no desenvolvimento do uso da fibra da PET em caminhões.

Se para os brasileiros a utilização do material usado começa a se tornar comum, a iniciativa surpreende os executivos que comandam as matrizes dessas multinacionais. Nos Estados Unidos é mais comum ver trabalhos de reciclagem da PET em veículos, segundo Duarte, da Ford. “Mas os alemães não acreditavam quando perceberam que a composição que obtivemos é a mesma de uma fibra natural”, conta Carnielli, da Volks, que começou a estudar o uso da PET em 2000.

O setor automobilístico ganhou peso no portfólio de fornecedores. De acordo com a Abipet, a maior parte da produção de fibra de poliéster reciclado ainda vai para o setor têxtil. “Mas a indústria automobilística vem, sem dúvida, ganhando participação”, afirma José Trevisan Jr, diretor da Unnafibras Têxtil. Segundo o executivo, 20% de sua produção de fibras recicladas – cerca de 6 mil toneladas por ano – é destinada, hoje, exclusivamente às montadoras.

*Os textos aqui apresentados são extraídos das fontes citadas em cada matéria, cabendo as fontes apresentadas o crédito pelas mesmas.

  

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